É o seguinte: em tudo que ando escrevendo, sentindo e falando sobre o tal amor, chego agora à conclusão que só posso estar com medo de tal sentimento, e como é difícil admitir isto. Basta este dar um passo sequer rumo a mim que recuo imediatamente, daí vem as ideais sem nexo, a cabeça viaja além, fico confusa, e minha primeira ação é fugir logo, seja dos sinais que ele traz ou indícios de que talvez esteja “contaminada” por tal sentimento que me suga a tranquilidade. Não sei o porquê da situação, quem sabe seja culpa dos históricos passados em que ele era marca presente nos relacionamentos e por falta de administração faliu, ou quem sabe preocupação por vir a servir de intruso numa fase controlada da vida que situo, onde os planos base estão em fase de construção e temo por qualquer abalo desprevenido.
Eu gosto de amar, confesso que fico meio boba, já vivo no mundo da lua e quando o cupido me flecha sou teletransportada para outro universo, adoro voar por entre os pensamentos e se alguém me corta as asas, o tombo é grave, porque fico sempre às alturas, vem os machucados, o curativo, a cicatriz, a marca. Uma pena o amor vir todo embalado por corações e declarações e não ter contrato de fidelidade duradoura, nesses amores que não passam de um dia, sentimento que vai se desgastando, ficou perecível, vence, acaba, e não está mais aproveitável, a fim de suprir os apelos do coração que pede urgência um preenchimento. Pensamos ter estabilidade, até que um simples vento nos balança, daí vemos o quão frágeis somos nós, seres humanos mortais.
Nessas embalagens com data de validade fixadas, queria sem validade um motivo para crer que existe algo que dure. Sem pensar em datas limite ou essas datas que já prevemos no meio dos acontecimentos de tempos nada bons. Quando penso nisto, a idealização de uma vida tranquila me dá paz, tudo certo, no lugar devido, sentimento correspondido, nada de surtos, tristeza e incerteza. Mas sei lá, acho que sou louca, monotonia não é pra minha personalidade, num minuto quero silêncio, noutro, barulho, as coisas “certas” no lugar devido por um tempo , eu curto, depois bagunço, sou uma metamorfose constante, constituída por sentimentos involuntários que chegam do nada e se vão da mesma forma. Quer saber? Talvez seja ilusão imaginar e querer intensamente um amor sem fim, as coisas duram enquanto têm de durar, enquanto for saudável, e se passar da validade a gente corre o risco de adoecer. Não quero ter a certeza intacta do que há por vir, viver é surpresa, e a graça é receber os fatos da vida com olhos brilhando e se perguntar por que. Talvez seja a instabilidade de tudo, misturada ao paraíso e ao inferno que nos move rumo a batalha da vida, enfrentando as lutas que nos testam para quem sabe vencer- nós mesmos.
Natielle de Paula..