Estou naquela fase da vida em que já não dou explicações a quem tem cera nos ouvidos e no coração. Sou uma mulher sem máscaras e de alma humilde que já não precisa provar nada a ninguém. Nem movo montanhas para quem não me respeita como sou. Decidi que devo ser franca, valente e digna.
Estas ideias resumem muito bem aquilo que conhecemos como realização pessoal. São pequenos desafios cotidianos que temos que desenhar para, finalmente, desfazermos das “cascas de cebola” que são jogadas não apenas no solo da nossa felicidade, mas também nas oportunidades para alcançar um objetivo determinado, uma meta.
Muitas mulheres lutam a cada dia por essa realização pessoal em ocasiões muito difíceis de conseguir. Dificuldades como a diferença salarial, discriminação no trabalho e desencontros no lar. Até para enfrentar frases como “Tu não podes, tu não sabes, tu não deves” vindas de familiares ou parentes. São desafios que nos mostram que temos de lutar numa dupla batalha: a exterior e essa mais íntima, mais profunda e necessária: a emocional, a psicológica.
A contínua necessidade de ter que demonstrar para ser aceita
O amor deve ser provado no dia a dia, não resta dúvida. Mas em certos momentos caímos em situação onde o carinho se torna quase uma exigência. Óbvio que tal situação pode acontecer para o casal, entretanto é mais comum que seja a mulher obrigada a demonstrar que é capaz de fazer tudo pelo cônjuge, de deixar de lado suas necessidades e desejos para cumprir outras expectativas.
Temos a obrigação de sermos boas filhas com nossos pais, com nossa família, ainda que os pais e a família tenham falhado em compreender quando damos um passo para alcançar um sonho. Daí a pouco eles arriscam um ponto final dizendo “Isso não é para ti”. Compreendemos e até desenhamos sorrisos quando, na verdade, estamos em desespero. Apesar disso chega um dia em que abrimos os olhos. Entendemos, finalmente, que a luz interna se acende e se conecta diretamente com nossas emoções e sai o grito: “Basta!”.
É então quando nos damos conta de que a única pessoa que temos de demonstrar algo, não são aos outros, é somente a nós mesmas. Porque quando somos capazes de conectar com nossas necessidades, o mundo começa a girar ao som de outra música mais relaxante, mais harmoniosa.
Devemos nos soltar para nos encontrar novamente
Quando nos reencontramos é compreensível recaídas com a também natural confusão interior, porém já não somos a mesma pessoa de antes. Já não encontrarão essa menina com os olhos inundados de sonhos que desenhou suas iniciais no céu. Nem será, tampouco, essa adolescente que desejou um amor romântico onde tudo dá em troca de nada. Menos ainda essa jovem que confunde ser feliz com o fazer os outros felizes, deixando de lado a própria felicidade.
Agora sou tudo que vê sem magia nem artifícios. Se não lhe agrado, é melhor que vá embora. Não devo mais viver para apenas atender aos demais.
Quando nos reencontrarmos conosco mesmas volta o relógio do tempo de realização pessoal; já não seremos a mesma pessoa.
Quando encontrar a si mesma, compreenderá que todas as coisas que lhe restam – os artifícios, o ruído mental, e todas essas relações caducas – arrancaram plumas das suas asas. Agora sim, para ser essa mulher que não precisa demonstrar a ninguém tudo que é capaz de realizar, será necessário que ponha em prática as dimensões dessa nova mulher.
Chaves para a realização pessoal
Algo indubitável é que não podemos ser “pessoas completas” e nos manter à margem dos outros, principalmente dos mais próximos. Cada um de nós tem compromissos sociais importantes: trabalhos, lidar com o cônjuge difícil, família. Mas é possível aspirar essa realização pessoal com todas estas esferas de problema?
A realização pessoal se inscreve precisamente na necessidade de que todos os nossos círculos de relacionamentos sociais, o trabalho, a afetividade pessoal nos oferecem a máxima plenitude, pois com equilíbrio e domínio, conseguiremos a nossa harmonia interior.
Se, por outro lado, nos sentimos na obrigação de demonstrar certas coisas para sermos “aceitas” como pessoas em cada um de nossos contextos, devemos reconhecer que algo não vai bem.
O que põe sempre em dúvida a nossa capacidade é quando nosso cônjuge nos pede, por exemplo, que fiquemos em casa para demonstrar a ele “quanto o amamos”. Ou no trabalho quando fazemos a tarefa dos outros e deixamos de fazer a nossa.Estes aspectos acabam tornando vulnerável nossa autonomia.
Temos que entender, ademais, que antes de demonstrar alguma coisa a alguém, temos que demonstrar a nós mesmas. Não é correto buscar a complacência ou a aprovação dos outros, porque, ao contrário, serão os outros que se elevam como juízes e artesões de um caminho que você mesma deve construir.
A eterna necessidade em demonstrar algo que não somos ou de buscar a aprovação alheia é uma forma lenta de tortura que pode não terminar nunca. Não permita que seja assim, seja decidida, seja sempre você mesma e não negocie sua integridade para não perder a sua chance de felicidade.
Texto extraído de La mente es maravilhosa –