Perdi os dois?
Não vou entrar na questão que estou perdendo amigas pra ir se jogar nos campos de batalha ao som de Tiesto às sextas-feiras até de manhã comigo. Desejo do fundo do meu coração todo amor do mundo para todo o mundo. Mas se 90% das minhas amigas estão namorando, isso significa que só tenho 10% de amigas neste momento. As que estão namorando, eu nem reconheço mais.
Isso porque as pessoas mudam sem aviso prévio quando estão apaixonadas. Fazem coisas ridículas como mudar a personalidade da noite pro dia. Tipo aquela amiga, que em um passado não muito distante, montava seu time particular de futebol (com reservas) na micareta, te olha com cara de desgosto enquanto você conta os casos do fim de semana. Eu paro, respiro, vou mudando de assunto discretamente até que estejamos falando sobre a cor do azulejo do banheiro. Porque não basta olhar com cara feia. Algumas amigas ficam moralistas depois de um pedido de namoro. Acho que alguém passa por aí lobotomizando cérebros para que as pessoas em um relacionamento sério esqueçam que existia uma vida com micaretas, batidão de funk e tequila pré-romance.
E algumas amigas vêm levando o esquecimento bem a sério, mesmo. Ainda bem que meu iPhone tem 32gb, o que não me forçou ainda a apagar alguns vídeos da categoria #tequila #chão #luzesflorescentes.
Além das minhas amigas #projetomadreteresadecalcutá, tenho aquelas que viraram um apêndice do namorado. Uma parte dele mesmo. Praticamente ele, aliás. Começam a AMAAAAAAAAAR aquela banda de rock dos anos 70. Amiga, você pode ter começado a aturar essas músicas que você detesta por causa do boy, mas me fazer escutar quando estamos no carro? Não, que não sou obrigada.
Uma vez, essa amiga pseudo-rockeira, começou a namorar um cara super fitness. Era foto no espelho da academia de madrugada, fim da cervejinha na quinta-feira, corrida no parque no domingo de manhã, suplemento depois do almoço light, lindo de ver. Mas aí, o namoro acabou, ela se apaixonou por um gordinho nerd e agora passa os dias deitada de conchinha no sofá, assistindo filme cult, comendo pipoca com tempero de bacon e não ouve mais música de rock no carro. Aliás, acho que até gostava mais do primeiro namorado. O que é um gosto musical perto de uma barriga saliente, né amiga?
Como se não bastasse você ver sua melhor amiga se tornando uma pessoa que ela não é, nunca foi, e você nunca imaginaria que ela seria, ainda tem que saber lidar com a escassez de aparições dela na sua vida. Amo aquela frase “perdemos um soldado”. Porque minhas amigas eram amigas pra toda hora. E, de repente, eu virei zero amiga e cem por cento psicóloga. E só. Acho até que vou começar a cobrar.
Mentira, não vou não. Amiga é pra isso. Amiga é pra ouvir. Dizem.
Mas eu fico pê da vida quando acontece algum probleminha no conto de fadas e meu celular é infestado por mensagens depressivas e pedidos de ajuda. A pessoa sabe que você é amiga dela. Que pode contar com você. Mas é incapaz de te perguntar se você está bem enquanto ela tá lá feliz curtindo seu amor. Amizade também é amor, também precisa ser regado igual plantinha. Senão acaba. E aí, quando o namoro acabar, você pode ficar de mãos vazias (isso foi um toque, não uma ameaça, amigas).
Tenho uma amiga que termina uma vez por semana e agora tá naquela fase de mandar mensagens ENORMES no whatsapp desabafando como se eu fosse um querido diário. Dou abraço, conselho, mimos e cervejas de graça e ela sempre começa a semana retomando o relacionamento fracassado. Sabe. Podia tá escrevendo livros de autoajuda e ganhando dinheiro, mas só tô aqui fazendo as honras de suporte emocional pra alguém que parece pouco se importar com a minha opinião.
As mais legais são aquelas que moravam na minha casa. Chegavam de mala e acampavam. E hoje em dia nunca podem sair comigo, porque nunca têm tempo. Mas postam fotos no Instagram com a turma do namorado. Queria conhecer a turma do namorado, essa parte dos amigos é interessante, não sou tão boba assim.
Tem ainda as que não podem sair porque o namorado não deixa. Obvio que você não vai chamar sua amiga que namora pra uma balada. Bom senso tá aí, né? Programa de meninas, fofoca num dia aleatório, mas não, não pode, “fulano vai brigar, vai ser horrível, ele vai terminar comigo e eu serei infeliz pelo resto da minha vida”. Um lado malvado meu diz que, você, que aceita que alguém diga o que deve ou não ser feito, além dos seus pais, já é infeliz.
Eu respeito a lua de mel das minhas amigas. Acho lindo e fico feliz quando elas começam a namorar, faço questão de saber os detalhes, de conhecer o cara, de incluir o casal em programas da minha vida de solteira que são compatíveis com quem namora. Porque acredito, realmente, que dá pra você estar apaixonada e ter amigas. Sério, isso não é impossível. O dia tem 24h, a semana tem sete dias, o ano dura doze meses. Dá pra você conciliar sua amizade com seu namoro, basta você se esforçar. Eu não quero minhas amigas todos os segundos na minha vida. Só quero elas presentes, de uma forma ou outra. Não só em lembranças respingadas de ressentimento.
Não se esqueçam de quem sempre esteve com vocês. Até porque, amigas, tenho certeza que vocês querem comemorar a aposentadoria ao lado de um monte de velhinhas alegres, bebendo champagne num cruzeiro pelo Caribe. Tenho certeza que sim. Tenho certeza que vocês não mudaram tanto assim.
Vocês já tiveram amigas assim? Estão passando por isso? Comente!